Autoridades apuram nove casos suspeitos de botulismo após uso de toxina para fins estéticos em MG
11/07/2025
(Foto: Reprodução) Possíveis casos em Três Pontas (MG) estão associados a um mesmo cirurgião-dentista que também atende em Pouso Alegre (MG), onde teve clínica interditada. Dois pacientes estão internados. Nove pessoas apresentaram sintomas de botulismo após tratamento com toxina em Três Pontas
Nove casos suspeitos de botulismo iatrogênico, relacionados à aplicação de toxina botulínica para fins estéticos, são investigados por autoridades de saúde e pela Polícia Civil em Três Pontas (MG). Os atendimentos teriam sido realizados por um mesmo cirurgião-dentista, que teve uma clínica interditada em Pouso Alegre (MG). Dois pacientes seguem internados no hospital.
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A toxina botulínica é amplamente utilizada na medicina estética para suavizar rugas e linhas de expressão. Também é usada no tratamento de espasmos musculares e hiperidrose (excesso de suor). O efeito da substância dura, em média, de 4 a 6 meses, e provoca o relaxamento temporário dos músculos ao bloquear os sinais nervosos.
Segundo a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), os primeiros dois casos foram notificados na segunda-feira (7), e outros sete na terça-feira (8).
Os registros feitos no sistema VigiMed envolvem pacientes que apresentaram sintomas como visão turva, boca seca, fraqueza muscular, dificuldade para respirar, distúrbios na fala e ptose palpebral (queda da pálpebra superior) entre os dias 29 de junho e 8 de julho.
Conforme a SES-MG, os casos foram discutidos com a equipe médica responsável, doses extras de soro anti botulínico foram mobilizadas, houve orientação para coleta de amostras para análise, realização de busca ativa por outros pacientes expostos e reuniões entre os órgãos envolvidos.
Investigação apura nove casos suspeitos de botulismo após uso de toxina botulínica em clínica de estética em Três Pontas, MG
Getty Images via BBC / Imagem ilustrativa
Segundo a Santa Casa de Misericórdia, dos nove pacientes, sete foram atendidos no Pronto Atendimento Municipal, permaneceram sob observação e, após avaliação médica, foram liberados sem necessidade de internação. Já os outros dois pacientes permanecem internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e na ala de clínica médica. Ambos estão medicados e clinicamente estabilizados, recebendo acompanhamento das equipes médicas.
Registro e investigação policial
As investigações são conduzidas em conjunto pela SES-MG, Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e autoridades locais. A Polícia Civil instaurou um inquérito policial e os primeiros depoimentos devem ser colhidos na próxima segunda-feira (14).
O boletim de ocorrência foi registrado na quinta-feira (10). De acordo com o documento, a Vigilância Sanitária foi acionada após a internação de dois pacientes que teriam sido submetidos a um tratamento estético utilizando a toxina botulínica.
A equipe de fiscalização esteve na clínica onde os procedimentos foram realizados. No local, os fiscais solicitaram ao profissional responsável o produto que havia sido utilizado, mas, de acordo com o boletim, ele não soube dizer onde estava o frasco.
Segundo o registro, ele também disse que o frasco continha 200 unidades de medida da toxina e que foram usadas 65 nos pacientes internados. Ao ser questionado se havia aplicado o produto em outras pessoas, ele inicialmente negou.
Ainda conforme o BO, o dentista entrou em contato com a fiscal da vigilância, dizendo que, depois que os fiscais deixaram a clínica, ele fez um novo levantamento nos arquivos e constatou que outros pacientes também tinham sido submetidos aos procedimentos com o mesmo produto e que, inclusive, alguns deles já apresentavam sintomas compatíveis com o botulismo.
Durante a inspeção, o profissional também explicou que atende na clínica de Três Pontas uma vez por mês e que adquire os produtos em Pouso Alegre (MG), onde mantém outra clínica. De acordo com o boletim, ele declarou que transporta os produtos em temperatura ambiente, justificando que a substância não estaria diluída no momento do transporte.
A clínica estética se manifestou por nota, dizendo que o responsável pelas aplicações é um cirurgião bucomaxilo com formação para procedimentos injetáveis, que atua de maneira independente na clínica, sublocada para ele, uma vez por mês. Ele seria o único responsável pelos procedimentos, incluindo a escolha e aplicação dos produtos utilizados. A nota reforçou que o espaço não tem relação com a apuração e se colocou à disposição das investigações.
Defesa do dentista levanta suspeita de contaminação
Em nota, a defesa do profissional informou que há uma suspeita de contaminação pela bactéria Clostridium botulinum, possivelmente originada do frasco de uma determinada marca de toxina botulínica.
A defesa afirmou que o dentista seguiu todos os protocolos, notificou imediatamente os órgãos competentes e encaminhou os pacientes para atendimento médico. A nota também afirma que a indústria farmacêutica, onde a substância foi comprada de forma direta, também foi notificada.
"Até o presente momento, a via mais provável de contaminação é pelo produto (no momento da fabricação), o que corrobora a notificação promovida para a indústria fabricante e um pedido de investigação feito às autoridades competentes", diz a nota.
Disse também que todos os pacientes foram encaminhados para recebimento de atendimento médico e que a principal preocupação do profissional no momento é com o completo restabelecimento deles.
Fiscalizações e interdição de clínica em Pouso Alegre
A Prefeitura de Pouso Alegre, onde o dentista também atende, confirmou que recebeu um pedido da SES-MG para apuração do caso. Após diligência da Vigilância Sanitária Municipal, o consultório localizado na Avenida Afonso Pena foi interditado por falta de alvará sanitário e de localização. O profissional não estava no local no momento da inspeção.
Ainda durante a investigação, foi identificado que uma distribuidora sediada em Pouso Alegre havia comercializado 40 unidades do mesmo lote da toxina botulínica utilizada nos casos suspeitos.
Conforme a prefeitura, quatro clínicas que adquiriram o produto foram fiscalizadas: em duas, o material já havia sido utilizado sem relatos de efeitos adversos até o momento; nas outras duas, os frascos estavam armazenados e foram interditados cautelarmente para possível análise.
A Secretaria Municipal de Saúde alertou hospitais e unidades de urgência e emergência da cidade, orientando sobre os sintomas do botulismo e os protocolos de atendimento.
De acordo com a prefeitura, todo o material recolhido, incluindo notas fiscais, autos de interdição e informações da distribuidora, foi encaminhado à Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), responsável pela condução da investigação em âmbito estadual.
A distribuidora dos lotes da toxina botulínica também foi vistoriada pela Vigilância Sanitária de Pouso Alegre. Por nota, ela afirmou que o dentista nunca foi comprador da empresa.
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