Empresas de fachada e notas fiscais falsas: como era o esquema que tem Marcos Valério como alvo em MG
02/12/2025
(Foto: Reprodução) Marcos Valério, operador do 'Mensalão', é alvo de operação contra sonegação em atacadistas em MG
A operação em Minas Gerais que teve o empresário Marcos Valério como alvo nesta terça-feira (2) investiga um esquema estruturado de sonegação de ICMS, lavagem de dinheiro e fraudes tributárias que supostamente desviou mais de R$ 215 milhões dos cofres públicos.
A operação cumpriu mandados de busca e apreensão em cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte e do Centro-Oeste de Minas. Entenda, abaixo, como funcionava o esquema:
Segundo o MPMG, o esquema funcionava com a criação de empresas de fachada, conhecidas no meio fiscal como “barrigas de aluguel”.
Essas empresas de fachada eram usadas para simular vendas para outros estados e mascarar a circulação real das mercadorias.
Assim, os responsáveis evitavam o pagamento do ICMS próprio e do imposto devido por substituição tributária.
Na prática, as notas fiscais indicavam uma operação interestadual fictícia, enquanto os produtos eram entregues a redes de supermercados e atacadistas mineiros.
Entre as empresas e supermercados alvo da operação está a rede Coelho Diniz, que atua no Leste de Minas Gerais e possui cerca de 25% das ações do Grupo Pão de Açúcar. O papel de Marcos Valério no esquema não foi detalhado.
A defesa de Marcos Valério informou que não teve acesso ao processo. O g1 entrou em contato com o grupo Coelho Diniz, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
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RELEMBRE: Quem é o empresário Marcos Valério
Nota fiscal falsa emitida incluindo o valor da comissão repassado aos beneficiários.
Reprodução
Notas fiscais falsas
O esquema funcionava com a emissão de notas fiscais fraudulentas para simular viagens de mercadorias entre estados.
Um atacadista de Minas Gerais emitia notas em valores altos, como R$ 119 mil e R$ 136 mil, indicando que os produtos seriam enviados para uma empresa em Goiás. Essa empresa, porém, era de fachada.
No mesmo dia, essa firma goiana emitia novas notas dizendo que as mercadorias retornariam para um destinatário final em Minas Gerais.
Pela data e horário, seria impossível um trajeto de quase 3 mil km ter sido feito em cerca de sete horas, o que revelou a simulação.
As notas emitidas na etapa final eram cerca de R$ 5 mil mais caras, diferença que correspondia à comissão de 2% paga aos responsáveis por gerar as notas falsas.
Mesmo pagando essa taxa, os envolvidos lucravam porque usavam a operação fictícia entre estados para reduzir o imposto devido, já que a alíquota interestadual é menor que a cobrada dentro de Minas.
INFOGRÁFICO: como era o esquema que sonegou R$ 215 milhões em MG
Arte/g1
Viaturas da polícia e da Receita cumprem mandados de busca e apreensão em Contagem nesta terça-feira (2).
Daniel Vilas Boas/TV Globo
As investigações
As investigações, conduzidas por mais de 18 meses, apontam que o grupo usava essas empresas fictícias para reduzir artificialmente o preço dos produtos, aumentar o lucro e prejudicar concorrentes que recolhiam os tributos de forma regular.
O Ministério Público também apura indícios de lavagem de dinheiro, corrupção e financiamento ilícito ligados às movimentações financeiras e ao patrimônio de envolvidos.
Mais de 100 empresas são alvo da apuração, e cerca de 30 delas tiveram endereços vistoriados.
A operação, deflagrada pelo Comitê Interinstitucional de Recuperação de Ativos (Cira-MG), que reúne os diferentes órgãos e instituições, cumpriu mandados de busca e apreensão em residências, sedes de empresas e escritórios ligados aos suspeitos.
Foram apreendidos celulares, computadores, documentos, aparelhos eletrônicos e veículos de luxo. A Justiça também determinou bloqueio de valores via SISBAJUD e a indisponibilidade de bens que somam R$ 476 milhões.
O caso tramita na 4ª Vara de Tóxicos, Organizações Criminosas e Lavagem de Bens e Valores de Belo Horizonte, responsável por ações envolvendo crimes financeiros complexos.
O processo está sob sigilo absoluto, determinado para preservar a investigação. Na decisão que autorizou as diligências, o magistrado destacou a existência de indícios suficientes dos crimes e o risco de destruição de provas, afirmando que medidas menos invasivas seriam insuficientes.
A operação mobilizou promotores de Justiça, delegados, policiais civis e militares, auditores da Receita Estadual e da Receita Federal, além de servidores do Ministério Público.
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