Polícia descobriu sumiço de 220 armas em MG ao flagrar suspeito com armamento que deveria estar apreendido na instituição
10/11/2025
(Foto: Reprodução) Corregedoria da Polícia Civil investiga sumiço de 220 armas de delegacia do Barreiro
A Polícia Civil de Minas Gerais descobriu o desaparecimento de cerca de 220 armas de fogo que estavam sob guarda da instituição após flagrar um suspeito portando um armamento que já havia sido apreendido anteriormente.
Uma servidora, Vanessa de Lima Figueiredo, suspeita de envolvimento com o caso, foi presa neste domingo (9). De acordo com a investigação, ela comprou dois carros de luxo e fez procedimentos estéticos com o dinheiro.
Há a suspeita, ainda, que ela revendia as armas para integrantes de facções criminosas (clique aqui para saber mais). A defesa diz que a medida cautelar de prisão foi desproporcional (veja posicionamento mais abaixo).
O caso, segundo interlocutores ouvidos pela reportagem, levou à abertura de uma investigação sobre um possível esquema de desvio de armas envolvendo servidores da 1ª Delegacia do Barreiro, no bairro Jardinópolis, em Belo Horizonte.
A polícia não detalhou o modelo das armas apreendidas, mas informou que o material extraviado é composto por armamentos de baixo calibre, muitos deles considerados obsoletos.
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De acordo com as informações, o suposto esquema foi identificado durante uma ocorrência de rotina registrada em Contagem.
Ao registrar a apreensão de uma arma, policiais constataram no sistema que o mesmo artefato já constava como confiscado em outra investigação e deveria estar armazenado nas dependências da delegacia. A checagem do acervo revelou que outros armamentos também haviam desaparecido.
A Corregedoria da Polícia Civil conduz a investigação e informou que o procedimento está em “estágio avançado”.
Em vídeo divulgado à imprensa, o delegado-geral da instituição, Rômulo Dias, afirmou que "a Polícia Civil reforça seu compromisso com a transparência e responsabilidade e o rigor na apuração dos fatos, reafirmando seu compromisso com a preservação da legalidade e da confiança da sociedade".
Delegacia de Polícia Civil do Barreiro, onde o caso foi registrado.
Thiago Phillip/TV Globo
O que diz a defesa da suspeita
Em entrevista à TV Globo, a defesa da investigada disse que a medida cautelar de prisão foi desproporcional e que nada de ilícito foi encontrado durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão.
"A defesa vai pleitear a liberdade provisória da Vanessa, porque entende não haver qualquer indício concreto no inquérito policial, completamente premeditado, que possa ensejar de fato essa prisão preventiva", afirmou o advogado Lucas Furtado.
Sobre as imagens, ele sustentou que os vídeos não mostram nenhum armamento com a servidora.
"No inquérito policial que a defesa teve acesso existia alguns vídeos em, data próxima, que a Vanessa entra e sai com a própria bolsa dela, em alguns momentos que são horários fixos, horário de entrada, horário de saída. É o único tipo de gravação que existe. Não foram identificadas armas durante essa movimentação, tão somente a bolsa dela", completou Furtado.
Falta de centrais de custódia é apontada como possível causa
O Sindicato dos Servidores da Polícia Civil de Minas Gerais (Sindpol) atribui o caso à ausência das Centrais de Cadeia de Custódia no estado.
Essas estruturas foram previstas na Lei nº 13.964, de 2019, o chamado “Pacote Anticrime”, e deveriam concentrar todos os materiais apreendidos pelas forças de segurança.
Segundo o presidente do sindicato, Wemerson Oliveira, a inexistência dessas unidades facilita extravios e dificulta o controle de armas e outros objetos apreendidos.
"Essas armas não deveriam estar armazenadas em delegacias. Até hoje a Polícia Civil não liberou a verba para a construção da central, que ficaria sob responsabilidade do Instituto de Criminalística", afirmou.
Até a última atualização desta reportagem, a Polícia Civil e o governo de Minas Gerais não haviam se manifestado sobre as alegações do sindicato.
Furtos em delegacias são evitáveis, diz Instituto Sou da Paz
Em nota, o Instituto Sou da Paz afirmou que ocorrências de furto de armas, como a registrada na delegacia em BH, são duplamente prejudiciais à população.
"Desperdiça o esforço policial de apreensão dessas armas, no qual são empenhados recursos públicos e muitas vezes expõe policiais a riscos, e ainda fornece armas para a criminalidade vitimizar a população", disse a entidade.
Segundo o instituto, armas sem vinculação judicial "não têm nenhum motivo para acúmulo em delegacias" e "devem ser encaminhadas para destruição tão logo tenham laudo pericial realizado". No caso de armas com vinculação judicial, a custódia originalmente é de responsabilidade do judiciário.
"É urgente compreender que a custódia de armas apreendidas deve ser o mais breve possível, com seu encaminhamento para destruição a fim de evitar esse tipo de desvio e custos desnecessários. Ao mesmo tempo, as secretarias de segurança e o Judiciário precisam investir na gestão constante dos depósitos existentes, com acompanhamento dos volumes custodiados, protocolos de acesso controlado e segurança física compatível", afirmou o Sou da Paz.
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